GETÚLIO VARGAS E A IGREJA CATÓLICA

Agabho Moraes
4 min readSep 30, 2020

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Senhor Presidente Getúlio Vargas, temos a garantia da sua ação benéfica sempre mais numerosa e progressiva, na plena confiança com que o povo do país espera de tão notável inteligência a clara compreensão dos deveres públicos, a multiplicação dos motivos de sua verdadeira felicidade.

– Papa Pio XII

A Era Vargas foi o período da República brasileira que a Igreja Católica teve mais influência e presença no Estado e na política. Getúlio Vargas:

  • Consagrou Nossa Senhora Aparecida como Padroeira do Brasil;
  • Proibiu a usura (Decreto nº 22.626, de 7 de abril de 1933);
  • Reintroduziu o ensino religioso nas escolas públicas (Decreto nº 19.941, de 30 de abril de 1931);
  • Baniu maçons;
  • Instituiu incentivos ao casamento e à natalidade (Decreto-Lei nº 3.200, de 19 de abril de 1941. O texto foi redigido com sugestões do Centro Dom Vital);
  • Reintroduziu o serviço de assistência religiosa nas Forças Armadas (Decreto-Lei nº 6.535, de 26 de maio de 1944. O serviço havia sido extinto décadas antes, com a proclamação da República, que separou a Igreja do Estado);
  • Determinou ao DOPS que reprimisse a propaganda anticatólica disseminada por maçons, protestantes, comunistas e demais transviados;
  • Solicitou a ajuda do Clero para criar a CLT. [1]

Ademais, o cristianismo foi fundamental para a própria doutrina do Estado Novo (a grande obra Varguista e essência do Trabalhismo brasileiro). O cristianismo como base metafísica para o regime era evidenciado em publicações da Revista doutrinária do Estado Novo e em discursos do presidente Getúlio Vargas.

“Um regime político, para ser eficaz, há de […] ser humano e nacional. Porque só desse modo pode atender às necessidades universais e às necessidades nacionais das gentes e dos Estados. Antes de tudo, porém, há de haver uma razão última de ordem, um absoluto em que se enraízem as coisas e que as expliquem, ou seja: – uma base metafísica para o regime. Isso foi encontrado no cristianismo. Getúlio Vargas prega, amiúde, respeito aos valores cristãos, que devem estar sempre no fundo de todas as ordenações sociais: “É sobre a sólida formação cristã das consciências, é sobre a conservação e defesa dos mais altos valores espirituais de um povo, que repousam as garantias mais seguras da sua estrutura social e as esperanças mais fundadas da grandeza, estabilidade e desenvolvimento das suas instituições”. [2]

Getúlio Vargas, no entanto, não usou o cristianismo por puro “populismo”, como alguns, sem conhecer a totalidade de sua história, gostam de frisar. Por certo, o gaúcho de São Borja era cético e negava o cristianismo em sua juventude, mas foi se aproximando cada vez mais de Deus e entendendo a importância do cristianismo ao passar dos anos.

Em 1934, Getúlio resolveu casar novamente na Igreja Católica, sem a presença da imprensa e de populares (anteriormente não havia se casado no religioso). Em seus escritos pessoais, Getúlio explica isso como uma “mudança de pensamento”. Deus, aliás, havia ganhado espaço em seus escritos: “Não se deve, porém, evitar os incômodos, quando se age na convicção de fazê-lo com acerto. Paciência. Não tenho, às vezes, para juiz, senão Deus e minha consciência”, “Não volto atrás, não me retrato de nenhum dos conceitos emitidos […] Só Deus sabe o futuro”. [3]

Segundo depoimento de sua filha Alzira, Getúlio se aproximou ainda mais de Deus após a morte de Getulinho, um de seus filhos. “Darcy dizia estar revoltada com Deus, por lhe levar o filho tão cedo e de forma brutal. Teria até deixado de rezar e fazer suas orações habituais. O marido [Getúlio], ao contrário, de acordo com depoimento da filha Alzira, viveu um momento de dolorosa aproximação com a fé” [4]

Apesar de ter se aproximado de Deus, Getúlio Vargas nunca se declarou católico de fato. Mas não se deve negar: a Igreja Católica, sob seu governo, teve grande influência na vida nacional. E essa influência não foi dada por um projeto de poder, mas por um projeto de nação.

Getúlio Vargas criou um Estado essencialmente nacional e humano, e sendo nacional e humano, tinha de se estruturar no sentimento religioso popular. Por isso fundou o Estado Novo “no reconhecimento de alguns valores eternos do homem, como índices de sua formação cristã”. [5]

  1. https://reacaonacional.wordpress.com/2019/12/15/recuperando-a-imagem-catolica-de-getulio-vargas/?fbclid=IwAR35YzqHQAupHfes9a1NLMQY69BYh7d5LgUGsNLTtGMQkiklFC0KWXVUt5k
  2. Revista Cultura Política Ano IV, n°46
  3. Diários de Getúlio Vargas
  4. NETO, Lira. Getúlio: Do Governo Provisório à ditadura do Estado Novo (1930–1945)
  5. VARGAS, Getúlio. A nova política do Brasil

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Written by Agabho Moraes

Heterodox Economics, Keynesian. Economics Student at UFF. Fluminense and Catholic.

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